25 de mai. de 2012

Medo


"Um dos efeitos do medo é perturbar os sentidos e fazer com que as coisas não pareçam o que são." - disse Miguel de Cervantes em Dom Quixote, século XVII

O distúrbio do medo patológico pode se apresentar como Fobia Específica, quando o pavor tem um objetivo certo, como por exemplo, medo de animais, de escuridão, de água, altura, etc.

Pode ainda se apresentar como Fobia Social, na qual o horror é de sentir-se objeto de observação e avaliação pelo outros como, por exemplo, falar em público, escrever diante da observação dos outros, comer em público, etc. Pode também surgir sob a forma de Ataques de Pânico, onde o paciente passa a ser acometido, de uma hora para outra, de sintomas físicos terríveis, sem que saiba identificar exatamente o que o ameaça.

Alguns cálculos atuais mostram que em torno de 25% da população teve, tem ou terá, em algum momento da vida, um episódio de Fobia. No Brasil, como de praxe, não há números nacionais a respeito do assunto. Hoje em dia aceita-se, com um pouco de incerteza, que esse distúrbio atinge duas vezes mais mulheres que homens.


Medos e Fobias
O medo, mais precisamente, o medo patológico e que limita de alguma forma a vida das pessoas, vem aparecendo com freqüência cada vez maior em consultórios psiquiátricos e clínicas psicológicas. Esse medo patológico se diferencia do medo normal por várias razões:
- Não ter razão objetiva;
- Não tem base na realidade concreta;
- O próprio paciente sabe ser absurdo o que sente;
- Provoca uma aflição (ansiedade) desmedida e
- É acompanhado de sintomas físicos (falta de ar, sudorese, etc)
A boa notícia é que, ao contrário de antigamente, quando o fóbico ia progressivamente se retraindo e se isolando cada vez mais, hoje em dia um grande contingente de doentes se vê estimulado a procurar ajuda especializada. Essa diferença de postura deve-se, sem dúvida, aos avanços dos novos medicamentos e à eficácia dos tratamentos.

Os quadros de Fobias e de Pânico estão relacionados aos quadros de ansiedade patológica, de angústia e, principalmente, de depressão, neste caso, de Depressão Atípica.

Em suas manifestações mais agudas, tanto as Fobias quanto o Pânico são altamente limitantes e quase sempre expõem os pacientes a todo tipo de vexames. O medo de elevador pode fazer com que uma pessoa simplesmente se recuse a trabalhar ou morar em edifícios, o de avião impede passeios (de toda família), o de dirigir é muito mais problemático ainda... Além da sensação de medo, propriamente dita, que aparece durante a circunstância que dá a fobia, há ainda o medo antecipatório, fazendo a pessoa suar frio só de pensar em se sentar à direção de um carro.

Na Fobia Social a pessoa é incapaz de conversar com pessoas supostamente diferenciadas, como o chefe, por exemplo, ou trocar opiniões com os colegas de trabalho, expor suas idéias numa reunião. O Pânico costuma ser mais incapacitante ainda. Profissionais podem até interromper sua carreira por causa do problema. No Pânico, repentinamente a pessoa começa a tremer, é tomada pela tontura, a pressão arterial dispara, o coração bate descompassado. Os sintomas são parecidos com os de um infarto, e, nesse instante, a morte ou a loucura iminentes parecem certas.

Depois da primeira crise de Pânico o paciente costuma submeter-se a uma batelada de exames clínicos, e embora não haja nada de errado as crises continuam. Um dos piores aspectos do Pânico é o "medo de ter medo". Apavorada com a idéia de voltar a sentir os sintomas, a pessoa passa a fugir dos ambientes em que os ataques ocorreram, como se tal atitude pudesse evitá-los. É por essa razão que tantas vítimas acabam se trancando em casa.

Além das crises características de Pânico, outros sintomas podem aparecer, como por exemplo o medo de engasgar com um simples grão de feijão, medo de qualquer comprimido, sensação de se afogar no chuveiro, etc.

Há cerca de um século começaram as primeiras investigações sobre a origem dessas desordens emocionais que atingem milhões de pessoas em todo o mundo. Um ramo da pesquisa, que se utiliza do modelo biopsicológico, derivado da psicologia comportamental, vêm encontrando grande ressonância entre os médicos e terapeutas que lidam com esse assunto. De acordo com esse ponto de vista, o medo patológico é apenas a expressão de uma angústia mais profunda, e não deve ser considerado uma doença em si.

Outro ramo da pesquisa, com visão mais neurológica e orgânica, tenta delimitar as áreas do cérebro responsáveis pelo medo patológico, bem como os elementos cerebrais (neurotransmissores e neuroreceptores) relacionados por ele. Por causa desse tronco da pesquisa científica foram encontradas várias substâncias reconhecidamente eficientes no tratamento do Pânico, da Fobia e da

Depressão.
Do ponto de vista neuropsiquiátrico, sabe-se hoje que as amígdalas, que são estruturas cerebrais localizadas na região das têmporas e têm a função de identificar situações de perigo, enviam ao hipotálamo, local de controle global do sistema endócrino, o sinal para que certas reações sejam deflagradas, como por exemplo, a reação de estresse.

Essas amígdalas reconhecem uma ameaça porque são alimentadas pelo Sistema Límbico, a parte do cérebro que constitui uma espécie de banco de memória das ameaças à pessoa, portanto, de memória do medo. No sistema límbico estão armazenadas as informações que remetem a temores de nossos ancestrais, como os de animais ferozes, do fogo ou escuridão. Além disso, o Sistema Límbico registra dados que se referem a experiências em que o medo foi adquirido por aprendizado ou por trauma. De acordo com pesquisas recentes, os fóbicos apresentariam uma hiperatividade nessa região do cérebro.

Os pesquisadores agora se empenham na verificação se esse sistema todo seria regulado por duas substâncias chamadas de neurotransmissores, a serotonina e a noradrenalina. São essas mesmas duas substâncias que se relacionam ao humor e às sensações de prazer e bem-estar.

A história dos antidepressivos, usados também para combater Fobias e Pânico, está intimamente ligada aos avanços nessa direção. No início, as esperanças depositavam-se sobre medicamentos como Anafranil® e Tofranil®, ambos antidepressivos com ação sobre a química cerebral sem muita especificidade. A constatação de que a serotonina tinha um papel preponderante nesse processo, propiciou a criação de medicamentos que atuam especificamente sobre esse neurotransmissor.

Foi assim que se chegou ao Prozac® e o Zoloft®, os quais interferem especificamente no neurotransmissor serotonina. Depois desses medicamentos, outros da mesma linhagem foram sendo desenvolvidos, como o Aropax®, Luvox®, Serzone®, Efexor®, e assim por diante. Depois de alguns anos acompanhando casos e mais casos de Fobias e Pânico, pode-se afirmar hoje, com certeza, que esses medicamentos são indispensáveis e insuficientes para a cura do problema.
Já se constatou que o tratamento medicamentoso é muito mais eficaz quando associados a psicoterapia e vice-versa. Isoladamente, tanto os medicamentos quanto a psicoterapia, servem mais para controlar a intensidade dos sintomas – o que, sem dúvida, faz uma enorme diferença para os que sofrem desses problemas, mas a resolução definitiva fica muito mais próxima com os dois tipos de tratamento conjuntamente.

Fobia de Lugares AbertosComo vimos, a Fobia Social faz com que a pessoa sofra ataques de Pânico cada vez que põe os pés para fora de casa. Inicialmente esse transtorno ansioso começa com uma estranha sensação ao atravessar uma rua, por exemplo, ou ao participar de uma reunião de trabalho ou coisa assim.

A sensação pode ser de uma súbita tontura, uma forte pressão no peito e um pavor irracional de cair no chão. Algumas pessoas começam com uma crise leigamente (e erradamente) tida como labirintite.

Esse pode ser o primeiro sinal de que algo esta fora de controle e, logo os episódios se tornaram freqüentes. O mal-estar volta a aparecer quando a pessoa se sente em situação de tensão, como em supermercados, no trânsito, no banco, no ônibus, avião, etc. Sair de casa se torna um sacrifício.

Na psiquiatria, esse medo relacionado a espaços abertos chama-se agorafobia, um transtorno que 25% da população está sujeita a sofrer, pelo menos uma vez na vida. Então, resumindo, entre essas manifestações da ansiedade patológica tem as chamadas Fobias Específicas, como o nome diz, específicas de determinadas situações ou objetos (barata, seringa de injeção, elevador, altura) e tem a Fobia Social, que acaba por fazer com que a pessoa tenha verdadeiro pavor de gente e as tarefas sociais banais, como assinar um documento ou comer na frente dos outros, transformam-se num tormento.

Fobia SocialA Fobia Social é o medo patológico de comer, beber, escrever, telefonar, enfim, de agir diante dos outros com risco de parecer ridículo ou inadequado. Em casos extremos, pode resultar em total isolamento. A principal característica dos fóbicos sociais é a ansiedade antecipatória, mal estar que aparece só de pensar na necessidade de falar numa reunião marcada para daqui a três semanas, de receber uma visita, de ter que ir a um casamento ou coisa assim.
Uma das queixas mais ouvidas na Fobia Social é do tipo: “é só eu sair de casa que as pernas tremem, as mãos suavam, sinto palpitações, falta de ar e sensação de que vou ter alguma coisa”. E o quadro se mantém na rua, no ônibus, dentro da sala de aula, no supermercado, no banco, etc.
O fóbico começa a sofrer desde a hora em que recebe a notícia de seu compromisso e os sintomas crescem como uma bola de neve quanto mais vai se aproximando o momento da provação. Na hora H a pessoa começa a prestar muita atenção no seu desempenho, começa a se preocupar demais com o que os outros estarão pensando e, num círculo vicioso, as coisas tenderão a fugir completamente de controle.
No controle das Fobias, aliar terapia comportamental ao uso de antidepressivos parece ser a chave do sucesso. Na terapia, o paciente aprende a enfrentar situações aterrorizantes, para ele, com mais segurança e a otimismo. Sob o efeito dos remédios, consegue impedir que sintomas físicos, tão desagradáveis, como suar demais ou uma súbita vontade de ir ao banheiro, fujam do controle. Isso acaba por devolver ao paciente a auto-estima necessária para sentir segurança naquilo que faz ou fará. Hoje em dia tem se considerado como ideal de tratamento a terapia comportamental ou cognitiva individual, associada a antidepressivos.

Fobia de Assalto em CriançasAtualmente tem sido relativamente comum crianças com menos de 10 anos sofrendo de Fobia de assalto. Depois da experiência, cada vez mais comum, de ter vivenciado algum assalto ou de ficar sabendo de alguma ocorrência desse tipo em alguém mais próximo, a criança vai ficando cada vez mais com medo, a ponto de sofrer exageradamente.

Nas classificações de transtornos emocionais esse quadro pode ser denominado Transtorno por Estresse Pós-Traumático mas, por razões didáticas, o conceito de fobia pode ser muito bem aplicado aqui. O comportamento dessas crianças começa a mudar. Começam a ter medo de ir para algum cômodo vazio ou escuro da casa, ficam apavorados de sair na rua, aderem insistentemente à mãe ou ao pai, pedem para dormir no quarto dos pais. Posteriormente passam a acordar sobressaltados no meio da noite.

Em seguida, a criança com fobia de assaltos pode deixar de querer ir à escola e de sair para brincar com outras crianças. Manifestam preocupação exagerada pelos pais e irmão e sentem muito medo de que alguém da minha família morra ou seja assaltado.

Fobia ou Medo de Barata?Muitas pessoas costumam dizer que têm fobia de barata, entretanto, de fato, muitas vezes sentem apenas medo (ou asco) do animalzinho. Para ser considerado Fobia esse sentimento deve ser, primeiro, desproporcional e absurdo. Segundo, a pessoa tem que apresentar os chamados sintomas autossômicos (falta de ar, sudorese, palpitação, mãos frias, etc.) diante da barata. Não é raro as pessoas fazerem um certo escândalo diante da barata, porém, não havendo platéia pegam um chinelo e esmagam o inseto.
O fóbico entretanto, simplesmente não dorme enquanto não tiver certeza absoluta que o quarto está livre de baratas. Ele passa mal dian te da idéia de haver uma barata dentro do quarto, ou da casa.

Fobia e Medo de Dirigir?
Para quem dirige, normalmente sentar-se no banco do carro, dar partida, engatar a marcha e sair com o carro são ações tão naturais e automáticas quanto escovar os dentes ou levar um copo à boca. Entretanto, para muitas pessoas, a simples idéia de guiar um carro pode causar verdadeiro pânico. Algumas pessoas desenvolvem Fobia do volante, mesmo depois de algum tempo de direção normal.

Essas pessoas se sentem incomodadas só de imaginar que poderão cometer alguma barbeiragem, prejudicar o trânsito e, em seguida, alguém poderá buzinar agravando ainda mais o nervosismo.

Quando esse medo é intransponível e seguido de sintomas autossômicos (falta de ar, sudorese, palpitação, mãos frias, etc.), estamos diante da Fobia, propriamente dita. Quando a pessoa não passa mal mas, apesar disso, evita a todo custo dirigir, então é apenas medo de dirigir.

O medo de dirigir, quando aparece depois da pessoa já ter dirigido normalmente, reflete grande insegurança, e esta, por sua vez, seria conseqüência de uma baixa auto-estima a qual, finalmente, refletiria um estado depressivo. É por isso que o tratamento de escolha para o medo de dirigir é com antidepressivos associados à psicoterapia.

Medo de Avião O medo de avião não é exclusividade de quem nunca viajou. Ele afeta, indiscriminadamente, passageiros novos e veteranos. É um Pânico inexplicável que se manifesta das mais diferentes formas. Em algumas pessoas, as mãos suam e gelam antes mesmo de o avião começar a se mover. Outras pessoas sentem palpitações, tonturas e náuseas. Há casos de gente que tem insônia na véspera da viagem, que se caracteriza como ansiedade antecipatória.

Algumas dessas pessoas com medo de avião, simplesmente deixam de voar, outras, curiosamente, desenvolvem um impressionante repertório de superstições para alívio da ansiedade quanto têm mesmo de viajar. Há quem viaja somente na primeira fileira para sair mais rápido em caso de pouso forçado. Outros carregam santinhos, costumam se benzer ou fazer “simpatias”, só embarcam com o pé direito ou evitam ir ao banheiro para não "desequilibrar" a aeronave e coisas assim.

Para quem tem medo de avião, não adianta explicar que apenas um entre trocentos vôos acabará em desastre, pois o fóbico sempre viverá na expectativa de que o vôo fatídico será justamente o dele.

Há dois tipos principais de medo de avião. Um deles diz respeito ao pavor de um acidente aéreo, medo da catástrofe. Outro representa o medo de passar mal no avião e não poder ser atendido, não poder mandar o avião parar para descer. Esse último está mais relacionado às síndromes ansiosas, do tipo Pânico ou Fobia.

No primeiro caso, no medo de acidente aéreo, o tratamento de escolha é predominantemente psicoterápico e, de preferência, com a chamada terapia cognitiva (veja o quadro). No medo de passar mal no avião e não ser atendido “a tempo”, usa-se com sucesso o tratamento antidepressivo.

Medo Normal e Patológico Todos nós temos algum grau de ansiedade ou timidez e, quando isso se manifesta, normalmente é acompanhado por uma indefinida sensação de mal-estar. Mas é benéfico experimentar ansiedade em certas circunstâncias e, de certa forma, a ansiedade normal até favorece a adaptação do ser humano a novas situações.

O medo ou ansiedade normais e provocado pela necessidade de fazer uma palestra ou dar uma aula, submeter-se à entrevista para emprego, etc., faz com que a pessoa fique mais alerta, mais preparada e, portanto, mais apta ao sucesso. Para o fóbico, entretanto, a ansiedade é patológica e não dá bons resultados. Ao contrário, ela compromete o sucesso, paralisa, descompensa e faz perder o controle. Nos casos de Fobia, há uma resposta ansiosa inadequada a determinado estímulo que, nas pessoas normais, determinaria uma resposta ansiosa mais adequada.

Assim sendo, a Fobia nada mais é do que uma reação ansiosa exagerada, fazendo com que o Sistema Nervoso Central tome por situações de risco os estímulos banais e inofensivos do dia-a-dia. Hoje, diante de quadros que faz a pessoa sentir palpitações, suar em bicas e até perder os movimentos diante de determinado objeto ou situação são sinais facilmente diagnosticados como Fobia. Muitas vezes, a Fobia aparece junto com quadros graves de Depressão (em torno de 50% dos casos) e de Síndrome do Pânico (60%), ou leva à dependência de álcool (20%).

A Personalidade do FóbicoRecentemente aventou-se a possibilidade dos fóbicos, de maneira geral, apresentarem alguns traços de personalidade em comum. Normalmente, são pessoas que tiveram uma educação rígida, estimuladora da ordem, da conseqüência e do compromisso. Costumam ser pessoas excessivamente preocupadas com o julgamento alheio, com a opinião dos outros a seu respeito, são perfeccionistas e determinados. Com essas características os portadores de fobia costumam ter alto senso de responsabilidade, bom desempenho profissional e avidez pelos desafios da vida social.

Mas a origem da fobia ainda é misteriosa, concorrendo para tal, desde a herança genética dos traços ansiosos da personalidade, até a aprendizagem das reações diante do perigo, passando pelas alterações dos neurotransmissores. Geneticamente já se sabe que os filhos de pais fóbicos têm 15% de possibilidade de perpetuar o comportamento na idade adulta. A medicina sabe também que, entre as pessoas com traços de timidez na personalidade, 2% vai desenvolver Fobia Social no decorrer da vida.

TRATAMENTOS PSICOLÓGICOS
Tipo
Indicação
Como Funciona
Terapia Comportamental
Fobias em Geral
A técnica básica consiste em expor gradualmente o paciente à situação que lhe causa medo, a fim de que possa superá-lo. Quem não consegue dirigir, por exemplo, começa o tratamento com sessões nas quais apenas dá partidas no carro. O passo seguinte é estimular a pessoa a dar algumas voltas pelas redondezas de sua casa. As distâncias dos passeios vão aumentando progressivamente, até que ela se sinta segura para guiar numa estrada
Terapia Cognitiva
Fobia Social, medos em geral
O paciente é levado a analisar racionalmente seus medos, comparando os dados da realidade com suas idéias pessimistas. Uma pessoa que teme falar com seus superiores no trabalho é questionada sobre se realmente há motivos para tanto. O terapeuta pode perguntar a ela se já foi ridicularizada, humilhada, criticada em público etc. A partir das respostas, que geralmente são negativas, ela vai descobrindo como sua patologia não tem razão de ser. Depois de algum tempo, o paciente é estimulado a enfrentar as situações que lhe dão angústia, de forma semelhante ao que acontece na terapia comportamental
Terapia Interoceptiva
Transtorno de Pânico
Estimula-se o paciente a deflagrar em si mesmo os sintomas físicos do Pânico, como vertigens, tonturas, falta de ar e taquicardia. O propósito é ensinar uma técnica de respiração abdominal que ajuda a controlar essas sensações ruins. Para provocar uma tontura, o paciente pode ser colocado numa cadeira giratória, que é movimentada com rapidez. Quando atinge um estado semelhante ao que experimenta nos ataques de Pânico, ele deve começar a respirar pelo nariz, de forma lenta e profunda, a fim de que o ar chegue ao abdome. Em seguida, deve expirar vagarosamente pela boca. A técnica não cura, mas pode atenuar em até 50% a incidência dos sintomas de Pânico. Além disso, ao perceber que durante uma crise ele possui algum controle sobre seu corpo, o paciente adquire mais confiança e acaba por temer menos as situações que detonam os ataques




A Química do Medo
Como o corpo reage numa situação de ameaça, seja ela real ou não:
1. Cérebro: as estruturas responsáveis por iniciar a reação a estímulos amedrontadores são as amígdalas cerebrais, localizadas na região das têmporas. Elas enviam um sinal ao hipotálamo, região de controle do metabolismo, para que seja intensificada a produção de adrenalina, noradrenalina e acetilcolina. Em uma fração de segundo, a descarga dessas substâncias causa alterações no funcionamento de diversas partes do corpo

2. Olhos: a química do medo faz com que as pupilas se dilatem. Isso diminui a capacidade de a pessoa reparar nos detalhes que a cercam, mas aumenta o poder de visão geral. Em tempos ancestrais, esse recurso permitia que o homem identificasse no escuro das cavernas um predador e as possíveis rotas de fuga

3. Coração e pulmões: o aumento do nível de adrenalina eleva os batimentos cardíacos. A maior irrigação sanguínea faz com que cérebro e músculos trabalhem mais intensamente, deixando a pessoa alerta e ágil. O fato de o coração bater acelerado exige maior oxigenação ­ daí por que a respiração se torna mais curta, ofegante

4. Estômago: muitas pessoas, em situações de medo, sentem dor na região estomacal devido ao aumento na produção de acetilcolina. A liberação em maior quantidade de sucos gástricos acelera a digestão e a transformação dos alimentos em energia.

18 de mai. de 2012


HOJE DIA 18 TEMOS DOIS MOVIMENTOS IMPORTANTÍSSIMOS

A LUTA ANTIMANICOMIAL

E O DIA DE COMBATE AO ABUSO E A EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

DIVULGUE - REFLITA - QUESTIONE - DENUNCIE

Aqui um link muito útil para pais, professores, educadores, instituições e todas as pessoas que estão envolvidas com os cuidados e educação de crianças e adolescentes:
 Caderno de violência doméstica e sexual contra crianças e adolescentes

18 de maio Dia da Luta Antimanicomial



Em nome da proteção  e do cuidado, que formas de sofrimento e exclusão temos produzido?


No ano em que se comemora os 50 anos da regulamentação da Psicologia no Brasil, o tema da Semana da Luta Antimanicomial nos remete às motivações dos primeiros tempos de organização do movimento antimanicomial e traz uma oportunidade de reflexão. Para tanto,é necessária uma análise crítica, não moralista e não conservadora, dos atuais discursos e práticas relacionadas as questões de Saúde Mental no estado de São Paulo.

Atualmente o uso abusivo de drogas é identificado como epidemia e associado à marginalidade avançada, alimentando a cultura do medo que produz pânico e autoriza a violência. Apesar dos mecanismos legais de regulamentação, na ânsia do governo em limpar das ruas os “indesejáveis”, observa-se no cotidiano ações violadoras de direitos, uma polícia repressora e sem acolhimento e práticas de cuidado desarticuladas.
Tudo isso reforça o ataque aos direitos humanos, aos princípios do SUS e da reforma psiquiátrica, quando assistimos à retomada das internações involuntárias e compulsórias em clínicas privadas.

Diversas ações apresentadas como acolhimento e tratamento, na verdade configuram-se em práticas manicomiais, numa reedição das políticas higienistas do século XIX, com a medicalização e o encarceramento dos desajustados. As saídas apressadas, preconceituosas e criminalizadoras encontram contraponto naquilo que foi construído pelos movimentos sociais antimanicomiais e preconizado na Rede de Atenção Psicossocial e nos princípios e diretrizes da Reforma Psiquiátrica.
Entendemos e lutamos para que o local de acolhimento e tratamento continue sendo a rede aberta do SUS. É urgente promover modelos centrados no desenvolvimento de projetos de cuidado, no território do sujeito e suas redes sociais. É fundamental a revisão crítica do papel hegemônico e centralizador dos hospitais psiquiátricos, o respeito aos direitos humanos e civis dos loucos e usuários de drogas, enfim, dos mais vulneráveis.

Nossa posição é coerente com a ampla mobilização social que resultou na IV Conferência Nacional de Saúde Mental e XIV Conferência Nacional de Saúde, fóruns legítimos de um estado democrático de direito, que decidiram: comunidades terapêuticas não cabem no SUS, bem como as internações compulsórias.

Para contribuirmos com essa reflexão preparamos uma semana de debates, manifestações públicas, eventos culturais e festivos, para comemorarmos as conquistas importantes já alcançadas! Confira a programação que preparamos e sinta-se à vontade para contribuir para a construção de um mundo mais solidário e menos repressor.

Clique aqui e e leia a Carta Aberta da Frente Estadual da Luta Antimanicomial sobre o Ato de 18 de maio

19 de abr. de 2012

Escuta

ESCUTA


"O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila.
Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: 'Se eu fosse você'.
A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito.
A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta.
É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina.
Não aprendi isso nos livros. Aprendi ...
prestando atenção."

-- Rubem Alves
 

O processo terapêutico muitas vezes passa por esse silêncio, o amor terapêutico, o respeito, a acolhida, a sensibilidade.

Não importando a abordagem, nem sua linha de intervenção, há um momento em que o terapeuta e seu cliente silenciam, sabem mais, compreendem mais, tem a luz da consciência, tem o momento da dor, tem a lágrima pressa no cílio.

Silenciamos em diversos momentos terapêuticos, nos casos de uma escuta  de formação da anamnese, nos laudos-diagnósticos emitidos as mães, ao revelar-se o incurável, silencia-se no desespero pela cura ou  no momento que se  revela  o inconsciente, no insight ou quando a boca por pudor cala-se, silenciamos para refletir-solitário.

No silêncio, nada ingênuo, dizemos  mais que  nas palavras de associações livres, dizemos mais que formulação  de coaching, dizemos mais que regras comportamentais, mais que nos  jogos lúdicos ou desfilar de associações semióticas.

Esse silêncio não é ócio criativo das abordagens de arteterapia, arteeducação ou nada parecido.

É o silêncio da confirmação da presença, seja qual for a próxima palavra.

Texto parte de Análises e Reflexões do Fazer psicologia nos dias de Hoje
Elaine Palma

26 de mar. de 2012

TRANSTORNOS DO HUMOR


De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana DSMIV (2000) a seção relativa aos transtornos de humor inclui aqueles quadros que têm como característica predominante uma perturbação importante no humor.

A seção está dividida em três partes.

A primeira descreve episódios de humor relativos à depressão como: episódio depressivo maior, episódio maníaco, episódio misto e episódio hipomaníaco. Estes episódios não têm seus próprios códigos diagnósticos nem podem ser diagnosticados como entidades distintas: entretanto, eles servem de “blocos de construção” para o diagnóstico dos transtornos.

A segunda parte descreve os transtornos de humor relativos ao: transtorno depressivo maior, transtorno distímico e transtorno bipolar I.

O conjunto de critérios para a maior parte dos transtornos de humor exige presença ou ausência dos episódios de humor descritos acima.

A terceira parte compreende os especificadores que descrevem o episódio de humor mais recente ou curso de episódios recorrentes.

Os transtornos de humor estão divididos em transtornos depressivos, transtornos bipolares e dois transtornos baseados na etiologia – transtorno de humor devido a uma condição médica geral, que se refere a uma depressão decorrente de uma problemática orgânica e transtorno de humor induzido por substância.

Os transtornos depressivos (a saber, transtorno depressivo maior, transtorno distímico e transtorno depressivo sem outra especificação) são diferenciados dos transtornos bipolares pelo fato de haver uma história de jamais ter tido um episódio maníaco, misto ou hipomaníaco. Já os transtornos bipolares (transtorno bipolar I, transtorno bipolar II, transtorno ciclotímico e transtorno bipolar sem outra especificação) envolvem a presença (ou história) de episódios maníacos episódios mistos ou episódios hipomaníaco, geralmente acompanhados pela presença (ou história) de episódios depressivos maiores.

a) O transtorno depressivo maior consiste por um ou mais episódios depressivos maiores (isto é, pelo menos duas semanas de humor deprimido ou perda de interesse, acompanhado pelo menos quatro sintomas adicionais da depressão).

b) O transtorno distímico se faz necessário observar por pelo menos 2 anos de humor deprimido na maior parte do tempo, acompanhado ainda por sintomas depressivos adicionais que não satisfazem os critérios para um episódio de depressão maior.

c) Transtorno depressivo sem outra especificação é incluído para a codificação de transtornos com características depressivas que não satisfazem os critérios para transtorno depressão maior, depressão distímico, transtorno de ajustamento com humor deprimido ou transtorno de ajustamento misto de ansiedade e depressão (ou sintomas depressivos a cerca dos quais existem informações inadequadas ou contraditórias).

d) Transtorno bipolar I é caracterizado por um ou mais episódios maníacos ou mistos, geralmente acompanhados por episódios depressivos maiores.

e) Transtorno bipolar II caracteriza-se por um ou mais episódios depressivos maiores acompanhados por pelo menos um episódio hipomaníaco.

f)Transtorno ciclotímico é caracterizado por pelo menos 2 anos com numerosos períodos de sintomas hipomaníacos que não satisfazem os critérios para um episódio maníaco e numerosos períodos de sintomas depressivos que não satisfazem os critérios para um episódio depressivo maior.

g) Transtorno de humor devido a uma condição médica geral é caracterizado por uma perturbação proeminente e persistente do humor, considerada uma conseqüência fisiológica direta de uma condição médica geral.

28 de fev. de 2012

Um ensaio sobre a realidade de Descartes e a loucura


Um ensaio sobre a realidade de Descartes e a loucura
           situação o indivíduo está em semi-vigília, preparando-se para o sono. A janela da consciência estreita-se, o mundo sensível chega a ele de modo mais obnubilado, e a mente está sujeita à aparição de falsas percepções, as alucinações. É durante este estado de transição que somos mais propensos a enxergar coisas que não correspondem ao mundo sensível. Por outro ladEm Descartes e suas “Meditações Metafísicas” a dúvida sistemática como método para se buscar a realidade é apresentada. De posse deste método o autor pretende minar toda a estrutura de aquisição de conhecimento até aquela época e reestruturá-la. Em um movimento de oposição à Escolástica, escreve que recebera “falsas opiniões como verdadeiras” e que então, tudo o que se desdobra a partir destes ensinamentos falsos só pode ser também falso. Neste preâmbulo anuncia que tudo aquilo que verá pela frente, inclusive os antigos ensinamentos que recebera, será posto à prova da dúvida. Inicialmente questiona a realidade sensível, a realidade que chega ao indivíduo através da sensação. Começam a aparecer as primeiras dificuldades no caminho, quando coloca que há coisas das quais não se consegue duvidar, como por exemplo a existência momentânea, “como é que eu poderia negar que essas mãos e este corpo são meus?” Coloca então que o louco é a única pessoa que nega esta existência, que nega esta verdade. Voltando a defender seu ponto, diz que é homem e não é louco, e por isso representa para si coisas menos verossíveis mas em sonho, enquanto aqueles o fazem durante a vigília. Surge aí um vácuo entre o real e o falso, onde o louco sonharia acordado, então correspondendo os sonhos aos falsos, enquanto que o mundo sensível momentâneo seria o verdadeiro. Mas retoma sua linha de raciocínio quando coloca então sonho e vigília no mesmo patamar, ao colocar que as representações de ambos são da mesma qualidade; representações do mundo sensível e do sonho se nos apresentam na mente com a mesma qualidade. É neste ponto que paramos para refletir.
Quero colocar em evidência aqui a nossa consciência. As representações oníricas e as do mundo sensível de fato se nos apresentam na mente com a mesma qualidade; quando olhamos um objeto, ou melhor, quando o mesmo se forma em imagem no nosso cérebro através da representação, a imagem é a mesma que a do sonho. Mas, apesar de a representação ser a mesma, conseguimos distinguir entre uma representação onírica e uma representação do mundo sensível. Para uma pessoa em seu estado normal é muito difícil não se reconhecer a diferença entre uma e outra. O que seria este estado normal, que permite a separação entre duas representações iguais em uma falsa e outra verdadeira? A este substantivo acresce-se outra palavra: estado normal de consciência.
A consciência é que dita se uma representação é onírica ou do mundo sensível. Aqui já coloco a primeira como sendo falsa e a segunda como sendo real. Não é a verossimilhança que conta para se distinguir se uma representação é falsa ou não, é a maneira como a consciência se apodera destas experiências. Em tempo, no que reside o significado de verossimilhança? Verossimilhança nada mais é do que saber se uma coisa é viável, possível no mundo real. Quando sonhamos que um elefante está voando ou que um peixe está andando pela terra sabemos que é algo irreal através da verossimilhança; comparamos as representações com o real e vemos ser aquilo impossível. Entretanto se sonhássemos que dois e três são sete não poderíamos pensar ser aquilo um erro, como uma criança aprendendo a calcular. Elefantes não erram e levantam vôo, portanto a verossimilhança serviria para testarmos as representações sensíveis e não as matemáticas. Mas a verossimilhança não é um ponto bom para definirmos real e falso, justamente por ancorarmos seu funcionamento no próprio real que queremos justificar, fechando um círculo.
Prossigamos então. Uma experiência comum em algumas pessoas são as alucinações hipnagógicas e hipnopômpicas. Nomes complexos para designar alucinações que ocorrem em estado de rebaixamento de consciência; na primeira o, quando acordamos o mesmo processo ocorre, a consciência não se restaura de maneira íntegra rapidamente, e no tempo em que ela está reunindo suas partes estamos mais susceptíveis às falsas percepções, às alucinações hipnopômpicas.
momento que nos tornamos conscientes, é a partir deste momento que existimos. Verifíca-se que as nossas primeiras marcas mnêmicas, nossas primeiras lembran
Outro exemplo são as alterações orgânicas do cérebro. Quando há um tumor localizado no sistema nervoso central, quando ocorrem alterações sangüíneas, quando há o uso de substâncias psicotrópicas, alucinações visuais e auditivas podem acontecer. Entretanto o que é característico da origem orgânica de tais perturbações da sensopercepção é que o indivíduo, quando seu estado de consciência não se encontra alterado pela droga, pela doença, ou por outro motivo, por exemplo, possui crítica de que estas representações são falsas. Como não está dormindo e aquelas representações não cabem ali, sabe que elas são falsas.
Neste último exemplo como no anterior a pessoa tem capacidade de julgar o que é verdadeiro do falso se faz através da consciência e da verosimilhança com o externo. No primeiro reconhece que a consciência no estado pré e pós sono não tem a mesma qualidade do que em plena vigília. Desta forma, como nos sonhos, dá a qualidade de falsas àquelas percepções que surgiram naquele momento. Se não atribuem completa falsidade a tais representações devido a verossimilhança, pelo menos colocam grande quantidade de dúvida por não se encontrarem em plena consciência. No segundo exemplo as representações geralmente ganham caráter de falso mais pela manutenção da consciência em associação com a incapacidade de aquelas representações não existirem ali naquele momento.
Assim distiguimos o real do verdadeiro através da maneira como obtemos essas informações, avaliando se nossa consciencia está íntegra naquele momento, e através da verossimilhança com o mundo real; comparando se aquilo que vemos pode estar ali. Mas, vou além; no que consiste a consciência? Quando ela começa a existir? A consciência consiste em parte em um núcleo, um ser para eu mesmo. “Cogito ergo sum”. Começamos a existir enquanto consciência quando iniciamos nosso pensamento no mundo. Entretanto, nossa consciência inevitavelmente também depende de um externo, de um ser a outro. Se não há o outro eu ninguém sou.
Assim, o real depende da consciência e desta forma possui duas âncoras; uma externa e outra interna. A externa baseia-se na verossimilhança, que é a constante comparação com o mundo sensível. Fazemos este movimento constantemente, nosso cérebro o faz de modo automático e incosciente. Sempre que observamos um objeto, uma cor, uma pessoa, algo, tomamos modelos já vistos antes. É diferente a criança que olha para o mundo e enxerga aquilo como uma coisa só e o adulto que pode vislumbrar em um retrato de representação sensível do que está olhando diversos objetos. Sabemos que a máquina humana não é perfeita e que vivemos tendo erros nas percepções; o sinal óptico como chega no cérebro às vezes carrega erros que o mesmo corrige. Podemos verificar facilmente isso nas ilusões de óptica onde representações sensíveis burlam esta correção do cérebro e vemos representados em nossa mente algo diferente do real. Esta é a âncora externa do real, damos a qualidade de real àquilo que se faz presente no real e nos chega sensivelmente; esta dobra que o mundo sensível realiza em nós e com a qual nos insere significados. É a partir deste ças, se produzem quando entramos no mundo simbólico e passamos a dar nomes, a falar as primeiras palavras e significá-las. Nossa consciência começa a existir a partir do advento do símbolo.
A âncora interna do real é a nossa consciência, por conseqüência. O espaço onde estes sinais sensíveis chegam e se fazem representações é a consciência. É ela que faz a correção dos erros de transdução, é ela que, quando perturbada, realiza falsas-percepções e falsas associações.
Assim, externo, representação e consciência nos asseguram da qualidade de real. Mesmo quando o externo falta, como é o caso do sonho onde há apenas representação e a consciência, encalacrada em si mesmo sob a escuridão do sono, a representação tem o álibi de não ter de fazer juz ao real. A pessoa pode até me comunicar o seu sonho, mas aquilo que traz para mim carrega a insígnia onírica, que se que não aconteceu no mundo real e não pôde ser compartilhado.
Retomando Descartes em seu ensaio observamos que a direção que o mesmo utiliza para a obtenção das verdades é a de dentro para fora, em mão única. Desconstroi toda a realidade, colocando que toda ela pode ser falsa, e centraliza dentro do homem a verdade. A verdade deve ser buscada nas entranhas da mente, ignorando todo o mundo exterior. De posse desta concretude interior, deve-se partir para fora e investigar o mundo sensível e construir as sólidas outras verdades. Quando coloca algo parecido com “ninguém poderá aí então me impôr realidades falsas” (palavras não extraídas do texto) neste sistemático e devastador caminhar da dúvida, realiza um movimento que vejo muitas vezes acontecer na loucura. Não é um sistema interdependente entre consciência e externo.
A loucura, diferentemente das situações anteriores de alterações orgânicas ou de perturbações da consciência, faz exatamente este movimento de impôr realidades internas no exterior. Quando questionamos a veracidade de uma representação ou de um pensamento delirante a um louco, com base no nosso real universal e compartilhado, as palavras que profere não são muito diferentes da que Descartes coloca em sua primeira meditação.
Por conseguinte a loucura é uma imposição de uma verdade pessoal ao exterior. O que caracteriza ela como falsa então? O louco não possui, até onde sabemos, uma alteração orgânica da mesma magnitude das descritas anteriormente. Sabemos que sua mente enquanto órgão biológico está funcionando de maneira anatomicamente adequada, uma vez que não há flutuações dessas falsas crenças e falsas percepções (ao contrário dos exemplos citados anteriormente).
Duas coisas a tornam falsas: a primeira delas é a ancoragem externa. Muitas das coisas que os loucos nos falam e dizem sabemos que não é verdade por não serem verossímeis: falham na verificação de validade no mundo real. A segunda coisa é serem representações pessoais que eles colocam em lugares errados; colocam-nas como compartilhadas ao jogarem-nas no nosso mundo sensível.
Quando relatam verem uma alucinação ou crer em determinado delírio, tem a certeza de que podemos compartilhar de tais fenômenos pois para eles estas experiências se situam em um espaço comum a eles e a nós. Não é como um sonho que só ele sabe que teve, e que, ao nos relatar, sabemos que é apenas um relato e que aquela experiência é única e pessoal, individual. É tentar compartilhar impressões pessoais. Assim o real lhes é enviezado e como a ancoragem externa está como que avariada há espaço para as falsas representações. Toda esta questão pode ser observada quando conversamos com pessoas possuídas pela loucura. Afirmam-nos com certeza inquestionável que o que estão vendo é real (i.e., que podemos comparar

++Texto publicado pelo Centro Acadêmico de Filosofia, da Faculdade de Filosofia da USP, em abril de 2009.
A diferença entre Descartes e o louco é que Descartes, apesar de acreditar que tudo é falso, conseguiu nos convencer disso e com isso tornou a dúvida “real”, coisa que o louco ainda não conseguiu.

By Dr. Alexandre lLoch

24 de jan. de 2012

Viva !!!!

O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos.

Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma mobília, sem portas ou janelas, sem relógio.... você começará a perder a noção do tempo.
Por alguns dias, sua mente detectará a passagem do tempo sentindo as reações internas do seu corpo, incluindo os batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede e pressão sanguínea.
Isso acontece porque nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr do sol.

Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar:

Nosso cérebro é extremamente otimizado.

Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho.Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia.
Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar conscientemente tal quantidade.

Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do dia e portanto, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo.

É quando você se sente mais vivo.

Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e 'apagando' as experiências duplicadas.
Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais rapidamente.
Quando começamos a dirigir automóveis, tudo parece muito complicado, nossa atenção parece ser requisitada ao máximo. Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os sinais ou até falando ao celular ao mesmo tempo.
Como acontece?
Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente); O cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências passadas e usa , no lugar de repetir realmente a experiência).
Ou seja, você não vivenciou aquela experiência, pelo menos para a mente. Aqueles críticos segundos de troca de marcha, leitura de placa são apagados de sua noçãode passagem do tempo.
Quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente apaga a experiência repetida.

Conforme envelhecemos as coisas começam a se repetir - as mesmas ruas, pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações, -.... enfim... as experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com que seu dia pareça ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo.

Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década.

Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a...

ROTINA

A rotina é essencial para a vida e otimiza muita coisa, mas a maioria das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de um só capítulo, repetido todos os anos.

Felizmente há um antídoto para a aceleração do tempo: M & M(Mude e Marque).

Mude, fazendo algo diferente e marque, fazendo um ritual, uma festa ou registros com fotos.

Mude de paisagem, tire férias com a família (sugiro que você tire férias sempre e, preferencialmente, para um lugar quente, um ano, e frio no seguinte) e marque com fotos, cartões postais e cartas.

Tenha filhos ou animais de estimação (eles destroem a rotina)

Sempre faça festas de aniversário e para você (marcando o evento e diferenciando o dia).
Use e abuse dos rituais para tornar momentos especiais diferentes de momentos usuais.
Faça festas de noivado, casamento, 15 anos, bodas disso ou daquilo, bota-foras, participe do aniversário de formatura de sua turma, visite parentes distantes, entre na universidade com 60 anos, troque a cor do cabelo, deixe a barba, tire a barba, compre enfeites diferentes no Natal, vá a shows, cozinhe uma receita nova, tirada de um livro novo.

Escolha roupas diferentes, não pinte a casa da mesma cor, faça diferente.

Beije diferente sua paixão e viva com ela momentos diferentes.
Vá a mercados diferentes, leia livros diferentes, busque experiências diferentes.
Seja Diferente!
Se você tiver dinheiro, especialmente se já estiver aposentado, vá com seu marido, esposa ou amigos para outras cidades ou países, veja outras culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos.... em outras palavras...
Se tiver uma ondição financeira oscilante, com muitas dividas e compromissos financeiros, divirta-se com coisas simples, em casa, em parques, bibliotecas, centros comunitários, igrejas, instituições, frequente clubes, atividades populares, sempre existe algo por perto de sua casa, pela sua vizinhança, informe-se ou simplesmente tome um banho de mangueira num dia de sol, jogue bola, arrume as plantas do jardim, passei com cachorro.

V-I-V-A. !!!

Porque se você viver intensamente as diferenças, o tempo vai parecer mais longo.

E se tiver a sorte de estar casado(a) com alguém disposto(a) a viver e buscar coisas diferentes, seu livro será muito mais longo, muito mais interessante e muito mais v-i-v-o... do que a maioria dos livros da vida que existem por aí.

Cerque-se de amigos.

Amigos com gostos diferentes, vindos de lugares diferentes e que gostam de comidas diferentes.

Enfim, acho que você já entendeu o recado,não é?

Boa sorte em suas experiências para expandir seu tempo, com qualidade, emoção, rituais e vida.

ESCREVA em TAmaNhos diFeRenTese em CorES difErEntEs!

CRIE, RECORTE, PINTE, RASGUE, MOLHE, DOBRE, PICOTE, INVENTE, REINVENTE...

V I V A !!!

(Texto adaptado - autor desconhecido)