14 de jan. de 2010

Ficar triste não é doença : Tristeza x Depressão

Ficar triste não é doença






            Parece injusto dizer a quem sofre que isso vai passar logo ou que a dor é pequena se comparada a outros sofrimentos do mundo.
           Mas é que a sociedade atual esta fazendo - num simples comentário ou com o aumento do consumo de antidepressivos.
           Uma revisão médica sobre essa conduta de tratamento, está tentando provar que negar a tristeza não faz ninguém mais feliz.
            A tristeza é tão necessária quanto o amor e o prazer para nos guiar na vida.







A Perda da Tristeza: como a psiquiatria transformou um sofrimento normal em distúrbio depressivo
The loss of Sadness: How Psychiatry Transformed Normal Sorrow into Depressive Disorder :
Ed. Oxford University Press
Autores: Allan V. Horwitz e Jerome C. Wakefield



           Os autores acusam a psiquiatria contemporânea de confundir o sentimento normal de tristeza do ser humano com distúrbios depressivos porque ignora a relação dos sintomas com o contexto no qual emergem. Um de seus alvos é a bíblia dos médicos para o diagnóstico de depressão, o Manual de diagnósticos para distúrbios mentais (DSM), da Associação de psiquiatria americana, que classificam de equivocado e defasado.



           Há pessoas que estão normalmente tristes e outras que sofrem de depressão. Mas para Horwits e Wakefield, as que vivem momentos de tristeza são, de maneira crescente diagnosticadas como depressivas. Uma confusão com conseqüências para psiquiatras e seus pacientes, mas também para a sociedade.



         O Dr Jerome Wakefield diz que a tristeza perdeu direito de existir. “Necessitamos da tristeza assim como da felicidade. Da dor e do prazer para guiarmos na vida e sabermos o que é bom e nocivo”.

 

Exigência de Sucesso



               Proibir a tristeza provocada por uma ruptura amorosa, pela perda de alguém próximo, por uma decepção pessoal ou por um problema Professional é banir um sentimento normal, que deve ser vivido, inclusive para que possa ser superado.
               Para Allan Horwitz, duas tendências sociais colaboram para que atingíssemos esse estágio. A primeira é a imperativa busca pelo sucesso em todas as áreas da vida, forçando as expectativas de performance individual. A segunda é a crescente intolerância com sentimentos tristes, fazendo com que pessoas esperem ser felizes o tempo todo. Isso contribui para o forte desejo pela procura de remédios antidepressivos para aliviar o sofrimento, não importa o quanto normal ele possa ser.



Psiquiatria cosmética




               Ao mesmo tempo em que dispara o número de gente que faz uso de antidepressivos, decresce o de pacientes em psicoterapia. A chamada psiquiatria cosmética dos medicamentos, porém tem sido questionada. A Organização Mundial da Saúde projeta que até 2020, a depressão se tornará segunda doença causadora de incapacidades, atrás apenas dos problemas cardíacos. A OMS acredita que somente 10% da população sofra com depressão profunda.
               A dor faz parte da emotividade humana e a tristeza não é necessariamente uma doença. Distúrbios depressivos, esses, sim, devem ser tratados diferentemente de estados tristeza gerados por um contexto especifico. Na antiguidade greco romana, médicos como Hipócrates (460-377 a.C) e Aristóteles (348-322 a. C.) já faziam a distinção entre "distúrbios da tristeza sem causa" e "tristeza normal com causa".
                O escritor francês Victor Hugo (1802-1885) definiu melancolia como “a felicidade do estar triste". Em 1958 o médico L.E. Burney já alertava que os "problemas do cotidiano" não podem ser tratados com uma pílula.
Contribuição
Fernando  Eichenberg, Paris



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